Thursday, March 11, 2004

E como Ulisses, dividi-me sempre entre a tentação de ir ainda um pouco mais além e a angústia de perder o caminho de regresso a casa. Não há nenhum viajante solitário que não sonhe com uma Penélope à sua espera. Eu continuo a sonhar que sejas TU!

Tuesday, March 02, 2004

É quando nos encontramos feridos que derivamos mais facilmente por caminhos não ponderados. E é nesses momentos que desejamos estar com a companhia certa, com o apoio certo. Apoio correcto e corrigível. Alguém que nos saiba equilibrar. Uma amiga. Uma mão. O ombro único, singular - o teu -, em que me deito e adormeço.

Monday, March 01, 2004

É quando sigo os passos que não são meus que me olho e me reconheço. Mas também quando os meus sigo me reconheço noutros que não me pertencem. Não sei que(m) me define. Não me revejo nesse espelho que vejo sem olhar. Nem sempre sou aquele. Nunca sei com quem acordo, nunca sei quem amanhece neste corpo – que é o único elemento constante em toda a alquimia da minha vida. Sou mais do que devia, sou mais do que posso controlar. E mais não é melhor nem superior. Mais é a divisão de potencialidades que me faz em pouco.
Mais é ter vários pequenos diários, em que escrevo e me ausento desregrada e descontroladamente. Neste já não escrevia há algum tempo. Foste tu que o desenterraste.

Thursday, February 26, 2004

Nick Cave:Mais uma vez, perdi um dos concertos que mais desejo ver. Ainda que sem os Bad Seeds, segundo consta foi mais um momento fantástico na história do CCB.
Sofia, morro de inveja!
Para aqueles que, para vossa infelicidade, também o perderam dedico-vos The Mercy Seat.

Wednesday, February 25, 2004

Se calhar há coisas que nunca deviam ter sido... como eu ler as tuas palavras, ou tu teres-te apaixonado por mim e eu por ti, um dia... ou as estrelas cairem do céu quando um anjo chora na Terra, ou os jardins perderem as suas flores, algures presas numa jarra PRETA, ou chover balas em vez de rebuçados azuis, amarelos, vermelhos... ou ser sempre noite em vez de ser dia... nem que fosse de vez em quando. Sei lá!

Lembras-te?

Monday, February 23, 2004

«Não há ninguém que eu deseje tanto como tu. Sinto falta do teu corpo, dos teus beijos de mel e paixão. É importante para mim que queiras partilhar o sono comigo. Amo-te»
A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera

Wednesday, February 11, 2004

Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São - tictac visível - quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela directamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!

Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos dispertos e a humanidade é alheia.
Dorme.Nós temos luz.
Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.

Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.

Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?

Sonho, falta de sono, vida?
Tom amarelo cheio da tua janela incógnita...
Tem graça: não tens luz eléctrica.
Ó candeeiros de de petróleo da minha infância perdida!

Álvaro de Campos, 25/11/1931