Saturday, January 03, 2009

30.12.08
No outro dia, lendo o Blog do PM, que agora já anda de novo lá por Moçambique, recordei-me , ou melhor, recordava ele, os Posts que há uns anos escreviamos, insurgindo-nos contras os «inhos». Há outra coisa, os Lugares-comuns, que me incomódam quase tanto como os «inhos». E hoje encontrei alguém que concorda plenamente comigo, ou melhor, eu concordo plenamente com ele:
" Detesto os lugares-comuns. São uma espécie de outlets da inteligência onde, por preços muito mais baratos, se compram imitações do pensamento.
Exemplo 1: «Portugal - País Pequeno e Periférico». Dou de barato o pequeno, embora, por razões de que todos suspeitarão, seja adepto ferveroso de que o tamanho não importa. Quanto ao periférico...onde fica a cabeceira numa mesa redonda? É o Japão «central»? (Ou os EUA, ou a Índia, ou a China.) As cidades principais dos EUA não ficam no centro do seu território, antes na «periferia» do mesmo, i. e., na costa Ocidental e Oriental. Que ninguém diga que vivo longe, porque, na verdade, estou perto do meu vizinho, e se alguma vez a minha casa se tornar relevante, o centro passará por onde eu moro. Faz-me lembrar um amigo americano, que, quando um estranho o interrogava na rua sobre como ir a determinado local, respondia, circunspecto, com ar de perfeita convicção: «You can't get there from here!» Repito: onde fica a cabeceira de uma mesa redonda?
Exemplo 2: «Não há fumo sem fogo». Este é o lugar-comun que mais me indigna. É o princípio da presunção da inocência, substituído pela presunção de culpabilidade. É bom que se diga bem alto: há, (muitas vezes), fumo sem fogo, sobretudo quando grassa a calúnia, a inveja e a mediocridade.
Exemplo 3: «Duas cabeças pensam melhor do que uma». É falso, notoriamente falso. Quando duas cabeças se juntam, há uma que pensa melhor do que a outra, (embora, por vezes, se possamcomplementar). Quando Einstein emigrou para os EUA foi editado na Alemanha um livro intitulado Cem cientistas contra Einstein.Resposta do visado:«Porqueê cem? Se estou errado, bastava um!» ou, como dizia o General Paton ao seu Estado-Maior: «Se nesta sala rodos pensam como eu, então, alguém não está a pensar!» Ah, se a verdade fosse como uma carroça, que mais depressa andasse, quanto mais burros a pixassem...
Depois há expressões portuguesas que são de um provincianismo confrangedor:
Exemplo 1: «Lá fora...» (faz-se, diz-se, referindo-se ao estrangeiro). Estamos a ver os ingleses a esclamarem outside, ou os franceses dehors, quando pretendem referir-se a outros países. Oliveira Salazar não deve ter sido estranho a estas alfândegas da mente. Bem dizia o meu tio, Pedro Almeida Lima, quando respondia: «Lá fora...País que nunca visitei!»
Exemplo 2: «Vem nos Livros...» Mas quais livros Deus meu! Escritos por quem? Mas será que as pessoas não percebem que a autoridade de um livro é apenas de quem o escreveu, naturalmente uma pessoa que, como qualquer outra, tem os seus bias, erros, enviesamentos? (Uma variante muito utilizada pelos médicos é: «Eles» dizem.) Em oposição, o reitor de Harvard, no discurso de encerramento do curso de Medicina começou da seguinte forma: «Metade do que vos eninámos é mentira...não sei qual é essa metade!»
Exemplo 3: «Ele(a) tem muita experiência...» Lembro-me sempre do meu Pai, que gostava de citar Pascal: «Experiência não é o que nos acontece, mas o que fazemos com o que nos acontece...» para acrescentar da sua própria lavra: «olha o burro, toda a vida à volta da nora... Pergunte-lhe o que é um circunferência!»
Exemplo 4: «É o pais que temos...» habitualmente acompanhado de um movimento de ombros e sobrancelhas que parece querer dizer: nada a fazer, país de idiotas, incúria de irresponsáveis. Este é um país de suplentes, em que poucos parecem querer entrar em campo, e os que ficam sentados, não reconhecem que é a sua equipa que está a perder. Como gostaria de ouvir alguém responder: Este é o país que somos!
Exemplo 5: «Da maneira que falaste, perdeste a razão!» Não, idiotas, não a perdi, (se a tinha), porque se a razão me assiste, bem posso ser malcriado, arrogante, snobe, insuportável, desprezível ou colérico, que mantenho como inha a coerência do qrgumento, independentemente dos decibéis com que a expresso.
Num jantar, ouvi uma vez esta tirada, bem digna de um certo personagem queirosiano: «Portugal, (pausa), é um país que não estimula o raciocínio!» Como tem razão, meu caro Conselheiro." Nuno Lobo Antunes, in Sinto Muito.

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